terça-feira, 29 de maio de 2012

[Psicotrópicas] Maré da vida

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Canais sem volta
Rios de memórias
Levam, as barcas, a vida à volta
Sem tempo para adeus
Quando viramos os rostos,
Nem acenos sobram para nós

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quarta-feira, 9 de maio de 2012

Paraísos Artificiais - Sentimentos lisérgicos

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Uma história de amor movida pelo destino e pelo desejo se sentir inteiro, embalada em viagens alucinógenas, música eletrônica e belas paisagens


Se você é "careta" e não curte drogas como cocaína, peiote, ecstasy, GHB (nunca tinha ouvido falar dessa) e afins, haverá um certo incômodo em assistir Paraísos Artificiais (2012), de Marcos Prado. Durante boa parte do longa, a sensação é que as drogas são um diverso e atraente bouquet de sensações transcedentais, desabrochando alegrias e incentivando interações sociais, sem nenhuma consequência.

Porém, se você é do tipo que "curte isso no Facebook", não terá do que reclamar - só não vale chiar hipocritamente dizendo que raves não tem nada a ver drogas, hein? Rodado na Praia do Paiva (Pernambuco), em Amsterdã e no Rio de Janeiro, Paraísos Artificiais não perde tempo discutindo os males dos entorpecentes nem trata o assunto com hipocrisia. Mostra sim que as raves e boates tem dessas coisas e que tem gente bem de vida enfiado até o pescoço nelas.

A narrativa fragmentada em três momentos e lugares diferentes, tão picotada que confunde no início, mais ou menos como em Amnésia, conta o relacionamento de três jovens a partir de um evento puramente casual e os desdobramentos que acontecem em suas vidas após esse encontro. Tudo embalado com música eletrônica e cultura rave. Se você não se identifica com nada disso, o filme será um pouco cansativo. Mas acredite, o "sacrifício" valerá a pena.

Até porque, tirando a excessiva presença desses elementos, o que fica verdadeiramente é uma história de amor não ortodoxa, mas onde o sentimento e a vontade de ser feliz estão presentes. Porém, essa felicidade não vem sem custo, muito menos sem dor. Tudo bem que em alguns momentos rola um certo ar novelesco, mas isso não tira o mérito do filme.

Erika (Nathalia Dill, em sua primeira protagonista no cinema e num papel ousado) é uma DJ brasileira que está fazendo seu nome em festas pela Europa. Nando (Luca Bianchi, uma cara relativamente nova) viaja até Amsterdã para realizar um negócio escuso e encontra Erika, com a qual vive um romance digno de sonho. E Lara (Lívia de Bueno) é uma grande amiga de Erika - diria até "algo mais" - que acompanha o início da carreira da DJ numa festa em Pernambuco.

Entre idas e vindas no tempo, o acaso comanda as situações, e, como já foi dito, confunde à princípio. Mas as pontas soltas vão se resolvendo lentamente, num passo lisérgico, até a cena de sexo mais criativa e chocante do filme - calma, nenhuma prática bizarra é mostrada. Apenas um fato que ocorre durante a cena e que dá estalo final na cabeça do espectador (se isso já não aconteceu até aqui), ligando muitos pontos anteriores e dando sentido ao todo.

Marcos Prado, diretor do fascinante Estamira, se arriscou na ficção e acertou a dose. Conseguiu fazer uma abordagem sobre drogas que não ficou puramente na crítica social, nem se perdeu no romance açucarado. A fotografia de Lula Carvalho também ajuda demais, compondo a atmosfera opressiva do presente de Nando, o clima alucinante das boates eletrônicas e o momento bucólico em Amsterdã. Para a produção, contou com o parceiro José Padilha. Interessante esse "revezamento" de tarefas, já que Prado foi produtor dos dois Tropa de Elite e de Ônibus 174, dirigidos por Padilha. Ou seja, aquele velho ditado de "em time que está ganhando, não se mexe" ainda faz algum sentido.

Paraísos Artificiais
Nota - 7.6/10



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quarta-feira, 2 de maio de 2012

Cine PE 2012 - Surpresas pessoais e decepção

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Na minha primeira e única noite de Cine PE 2012 - vários problemas me impossibilitaram de conferir o festival desde sua abertura, dia 26 de abril - o saldo foi... levemente positivo. Não é nenhum segredo que desde o primeiro dia, o festival vem se "queimando" por conta de várias falhas técnicas, que além de impedirem ou atrapalharem as projeções, causam transtornos por conta de mudanças na programação - uma tentativa de compensação para quem compareceu e não assistiu o que queria. Domingo, não foi diferente, mas vamos adiar um pouco essa parte...

Cheguei atrasado à sessão de Xingu, de Cao Hamburguer, exibido gratuitamente, às 16h. Meia hora de atraso, pra ser mais exato. E foi impressionante como, mesmo entrando de gaiato no navio, o filme conseguiu me marcar de forma boa. Mais um filme que prova a capacidade do cinema brasileiro.

Depois, foi a vez dos curtas. O documentário Di Melo - O Imorrível, de Alan Oliveira e Rubens Pássaro, foi o melhor da noite, com certeza! No meu caso, em particular, foi marcante por conhecer um pouco mais do pernambucano que sempre escuto no meu estágio, por conta da minha querida supervisora e amiga Micarla, que dentre as músicas de sua playlist, sempre põe Kilariô (ouça aqui). A empatia foi automática. O personagem é divertidíssimo e tem uma história marcante, como todas as "histórias de perdedor". Arretado!

O paraibano As Folhas foi o mais fraco dos três. Pareceu-me um filme feito nos corredores de algum curso de cinema, sem grandes acabamentos. O próprio diretor, Deleon Souto, reconheceu, em breve discurso de apresentação do filme, que era uma início de experiência cinematográfica. Apesar de uma temática até legal, porém já meio gasta (afinal muitos filmes têm se inspirado no Espiritismo nos últimos anos), não convenceu e levou aplausos burocráticos dos presentes.

O último curta, Cesar!, Gustavo Suzuki, foi anunciado como uma comédia sobre um nerd e seus amigos, num plano de vingança contra um playboy valentão da escola. Foi bem legal, mas não provocou metade do riso que eu esperava. Apelou demais para palavrões e situações absurdas. A maioria deve ter aprovado, visto os urros de riso durante a projeção, mas pra mim, sobrou apenas um riso meio amarelo. Mediano.

Alaíde (Hermila) e Hiroito (Daniel), em cena "romântica"
Para fechar a noite, o longa Boca, de Flávio Frederico, contando a história de Hiroito Joanides, famoso bandido da região da Boca do Lixo, zona de prostituição do centro de São Paulo. Ambientando nas décadas de 50 e 60 e com Daniel Oliveira e Hermila Guedes no elenco, o filme estava pra lá de interessante quando a projeção simplesmente parou, o barulhinho do projetor também, e logo todas as luzes do teatro foram acesas. Todos no local estava visivelmente consternados, sem entender nada do que acontecia. Eis que o produtor do filme sobe ao palco e explica: houve um erro na montagem do filme. Dividido em 6 rolos, o filme pulou do terceiro para o sexto rolo. Como era algo que poderia levar muito tempo para ser consertado, preferiu-se pela não exibição.

Ele ainda arriscou um "quem quiser esperar, vamos ver no que dá", ou algo assim, mas quase ninguém ficou para ver no que daria. Evasão quase completa dos quase 3 mil espectadores. A saída para resolver o impasse foi reexibir o filme ontem, em sessão gratuita.

Foram tantas alterações como esta na programação, por motivos semelhantes - ontem foi a vez dos curtas terem problemas... -, que o Cine PE sai meio manchado este ano. Para 2013, é bom que a organização do festival se afine para que problemas como os desta edição não se repitam. Quase todos os dias algum filme saiu prejudicado! É um desrespeito com público e realizadores. Torço para que ano que vem, o Cine PE seja melhor.

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Wesley Prado é recifense, leonino, quase jornalista e nostálgico. Lembra da queda do Muro de Berlin. Simplesmente louco por quadrinhos, RPG, livros e cinema. Criador do Caixa da Memória, mas humilde demais para querer ser chamado de deus ou papai.